Vórtices de Von Karmen - Madeira 26 de Junho de 2016

A imagem de satélite das 9 UTC do dia 26 de Junho de 2016 mostra nuvens do tipo estratocúmulos sobre o Atlântico que são transportadas pelo vento de nordeste em direção à parte norte da Ilha da Madeira, onde o céu se encontra muito nublado. Devido ao efeito de Foen na parte sul da ilha não existe nebulosidade. Para sueste da Madeira as nuvens mostram um padrão correspondente à formação de vórtices Von Karman. As Ilhas Canárias também dão origem ao fenómeno que nesta região é menos percetível devido à existência de menos nebulosidade por a atmosfera estar mais seca nos níveis baixos.

Esta situação é frequente quando o anticiclone se intensifica sobre o Atlântico deixando a Madeira numa circulação bem definida de nordeste, com intensidade moderada a forte, como acontecia neste dia e se pode ver na carta da pressão ao nível médio do mar e vento a 10 metros de altitude. A Ilha apresenta-se como um obstáculo ao movimento do fluido, neste caso a atmosfera, que é forçado a diminui de velocidade ao encontrar o obstáculo, acelerando dos lados e por cima para o contornar, e formando uma esteira de vórtices de Von Karmen a jusante, como mostra o esquema.

Sendo um fenómeno de mesoescala, a capacidade dos modelos de previsão do tempo para o descrever depende da resolução espacial e temporal do modelo e da sua qualidade na descrição da orografia. O modelo de área limitada e alta resolução AROME, com resolução 2,6 km consegue reproduzir a perturbação do campo do vento, como mostra a carta da pressão ao nível médio do mar e vento a 10 metros de altitude.

O modelo de área limitada ALADIN, com resolução de 8 km, e que representa a orografia das ilhas com algum detalhe, sendo a cota máxima do modelo 1250 m de altitude, nesta situação não reproduz a perturbação ao fluxo introduzida pela ilha, representando o fluxo de nordeste com intensidade de cerca de 15 kt sobre o mar e 10 kt sobre terra.

O modelo global ECMWF, com resolução de 9 km, consegue resolver a perturbação ao fluxo causada pela ilha. O fluxo médio não perturbado, de nordeste de 17 kt, com diminuição da intensidade do vento para 10 kt a barlavento do obstáculo e aumento da intensidade até 21 kt a jusante dos extremos leste e oeste. A sotavento da ilha, correspondendo à esteira dos vórtices de Von Karmen, são representadas acentuadas flutuações da intensidade e direção do vento, que varia entre 0 e 21 kt, como de vê na carta da direção e intensidade do vento a 10 metros.

A observação de superfície na rede de estações meteorológicas da Madeira às 9 UTC mostra em Porto Santo o vento médio de 12 kt, com rajadas de 21 kt condições consideradas próximas das condições sinópticas devido às características do local da estação meteorológica.

Na parte norte da Ilha da Madeira o vento é fraco (variável com 4 kt) e tem rajadas de 10 kt. A temperatura do ar é 18 ºC e o ponto de orvalho 15ºC

No extremo leste da ilha, na estação do Caniçal, o vento aumenta de intensidade, sendo de nordeste com 19 kt, e rajadas de 33 kt.

Na estação do Lombo da Terça, localizada a 935 metros de altitude no extremo oeste da Madeira regista-se vento com 23kt, e rajada de 37kt. A temperatura do ar e o ponto de orvalho de igual valor, 12,3 ºC, indicam que o ar se encontra saturado.

O ar também está saturado nos pontos mais altos da ilha, com temperatura 8,6 ºC e ponto de orvalho 8,5ºC no pico do Areeiro, a 1510 metros de altitude, onde o vento é de nordeste com 14kt, menos intenso que nos extremos da ilha.

No Funchal o vento é fraco, com 2 kt e direção variável. O ar, com 22,0 ºC de temperatura e 14,5 ºC de ponto de orvalho, encontra-se mais quente e seco que no lado norte da ilha.

A temperatura e humidade observadas na rede de estações meteorológicas mostram a existência do efeito de Foen: o ar húmido deslocando-se em direção à montanha é obrigado a subir, tornando-se mais frio e húmido, até atingir a saturação; ao descer a vertente a sotavento, o ar é mais seco e a sua temperatura sobe.

A intensidade do vento nas diferentes estações mostra que o vento aumenta de intensidade em altitude mas em particular nos extremos leste e oeste da ilha, diminuindo de intensidade no lado norte e no lado sul, como seria de esperar pela observação dos vórtices na imagem de satélite e de acordo com a previsão dos modelos AROME e ECMWF.