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1970-01-01 00:00

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Tornados de 24 Outubro 2016 em Olhão – Tavira – 18:45 UTC em Serpa – 20 UTC na Vidigueira – 22 UTC em Monte Pereiros, Serpa – 23:15 UTC

 

Enquadramento sinóptico

Uma depressão barotrópica centrada a sudoeste da Península Ibérica, com 997hPa em 37N 14W às 00UTC do dia 25 de Outubro de 2016, e com expressão até aos níveis mais elevados da troposfera, transportava uma massa de ar e instável, quente e húmido, com tetasw entre 14 e 16 ºC, num fluxo de sudoeste sobre a Península Ibérica. O gradiente de temperatura da massa de ar era pouco acentuado mas na região mais quente e húmida formou-se uma linha de forte instabilidade associada ao forçamento da corrente de jato, que a partir da tarde do dia 24 deu origem a células convectivas com forte atividade tendo sido reportados vários fenómenos meteorológicos associados a convecção profunda na região Sul de Portugal Continental, entre os quais a ocorrência de 4 tornados.

A sondagem prevista pelo modelo ECMWF para Faro mostra a tropopausa a cerca de 10000 metros de altitude, numa massa de ar quase saturada e marginalmente instável em toda a extensão vertical, com 31 mm de água precipitável e CAPE 403 J/kg às 18UTC. Nos níveis baixos o vento apresenta shear e veering pouco acentuados. A sondagem de Beja apresenta características muito semelhantes, com a instabilidade a diminuir às 00UTC, CAPE 113 J/kg, mas com shear e veering mais acentuados.

 

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Observação satélite

As imagens RGB massa de ar às 00 UTC do dia 25 mostra uma intrusão de ar estratosférico na circulação da depressão, associada ao forçamento da corrente de jato, e a formação de nebulosidade com acentuado desenvolvimento vertical na região mais quente e húmida da massa de ar.

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Observação radar

As imagens do radar de Faro deste dia apresentam-se com pouca qualidade o que dificulta a sua interpretação.

A observação do campo da refletividade permite identificar uma estrutura de uma supercélula que se organiza sobre o mar, movendo-se para nordeste e que apresenta um padrão de rotação. Na observação de refletividade de baixa elevação (0,1º correspondendo a uma observação a cerca de 700 metros de altitude na localização da estrutura) das 18:36 UTC esta estrutura apresenta um padrão do tipo hook e encontra-se a sudoeste do local, assinalado na figura com X, onde ocorreu o tornado de Olhão. Nas imagens seguintes identifica-se a mesma estrutura sobre o local onde foram registados os danos nos concelhos de Olhão e Tavira, estando já em dissipação às 19:16 UTC, a nordeste do local.

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No Concelho de Serpa só é possível identificar uma estrutura, que se encontra às 19:46 UTC, a cerca de 5 km a oeste da casa do Monte do Cailogo, e que se pode observar nas imagens seguintes evoluindo para norte, passando sobre a IP8 e sobre o Monte Pantufo, onde se encontra às 20:08 UTC. Esta estrutura passa já dissipada a leste do local onde ocorreu o tornado no Concelho da Vidigueira, pelo que se pode afirmar que as ocorrências reportadas resultam de células convectivas com origem independente. Não se encontra nas imagens de radar uma estrutura que se possa relacionar com a ocorrência reportada às 23:15 UTC.

A imagem das 21:46 UTC mostra no local da Herdade das Aldeias Pequenas, no Conselho da Vidigueira, um aglomerado convectivo que não se pode especificar por se encontrar fora alcance doppler mas que apresenta desenvolvimento vertical até cerca de 11000 m, mais alto que outras estruturas na região, e pode justificar a ocorrência de um tornado.

Tornado em Olhão – Tavira

O tornado ocorreu em Olhão cerca das 18:45 UTC numa altura em que chovia muito e havia trovoada. Na cidade não houve danos evidentes porque passou na sua periferia, atingindo o Pavilhão Municipal, onde arrancou a vedação do estádio e levantou a cobertura de lusalide, tendo sido visto pelas raparigas que estavam a treinar no campo de jogos. Houve projeção das telhas.

Num rasto com 500 m a 1 km de comprimento derrubou sinais de trânsito, que ficaram encostados ao chão por o poste ter sido dobrado a 90 graus junto ao solo, e arrancou árvores pela raiz e destruiu árvores, arrancando todos os ramos, só ficando o tronco.

Atravessou campo aberto depois do estádio, deslocando-se em direção ao Conselho de Tavira onde atingiu uma casa em Sta. Catarina. Destruiu a chaminé, causou danos em barracões, dobrou um poste eletricidade, arrancou telhas, um gradeamento, oliveiras e eucaliptos. As árvores foram arrastadas para a estrada. Atingiu depois outra casa, postes e eucaliptos em Porto Carvalhoso, deixando um rasto 5 km por 50 metros. Os Bombeiros de Tavira foram alertados para esta ocorrência às 19:30 UTC.

O rasto não foi contínuo, tendo o vórtice tocado no solo e levantado e voltando a atingir o solo, causando mais danos nas zonas planas e vales. O comprimento total estima-se em mais de 15 km, nos concelhos de Olhão e Tavira, atravessando uma região agrícola e florestal de povoamento disperso.

Os danos reportados permitem estimar que teve intensidade F1 ou superior.

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Tornado em Serpa

O alerta foi dado às 20:27 UTC, devido a árvores, postes eletricidade e telefones partidos, redes de vedações e cortiça de um depósito que foram arrastados para a via IP8. Os relatos dos primeiros danos referem-se ao Monte do Cai Logo, onde não havia testemunhas, tendo sido reportado na manhã seguinte danos de armazéns, postes, cabos telecomunicações, queda de árvores e animais mortos.

No Monte das Oliveiras houve árvores arrancadas, torcidas, partidas, descascadas até só ficar o tronco e destroços projetados a 600 metros. Na propriedade Pedro e Filhos causou graves danos em plantação intensiva de olival novo, com cerca de 6000 árvores destruídas. No Monte Quinta de Pantufo destelhou casas de apoio ao trabalho agricola a arrancou árvores pela raiz. Há também referência a oliveiras arrancadas no Monte da Ínsua e a ocorrência de danos até à estação caminhos-de-ferro.

Não se sabe onde o tornado se inicia, nem onde termina estimando-se que o comprimento do trilho seja superior a 20 km e a intensidade F2 ou superior. A observação radar permite estimar que a hora de ocorrência foi cerca das 20 UTC.

Tornado em Vidigueira

O tornado atingiu cerca das 22 UTC a Herdade das Aldeias Pequenas, Pedrogão do Alentejo. Causou danos avultados num canto da cobertura de um armazém de alfaias agrícolas, onde levantou telhas, na vedação da propriedade, na área florestal de montado de azinheiras, e na exploração agrícola, atingindo uma plantação de quatro hectares de oliveiras e causando a destruição total de dois pivôs de rega, que parece que andaram às voltas. Arrancou e arrastou árvores grandes, oliveiras e azinheiras, segundo informação do adjunto dos Bombeiros, que estiveram no local e o relatório da ocorrência nº 26811 do Gabinete Municipal de Proteção Civil e Segurança da Vidigueira, de 25/10/2016.

O trilho tem cerca de 2 km e a intensidade estima-se em F2 ou superior.

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Tornado em Monte Pereiros, Serpa

Segundo informação do comandante dos Bombeiros de Serpa que chegou ao local logo depois da ocorrência, o tornado ocorreu às 23:15 UTC, 0h15 locais, e não se encontra relacionado com o tornado ocorrido 3 horas a curta distância, no mesmo concelho. Destruiu completamente um casão em chapa, que desapareceu. O trator que estava dentro do casão foi arrastado, a casota do cão em cimento foi levantada, projetada e destruída. Houve postes eletricidade e telefone partidos, e projeção de destroços a 800 metros. Nota-se o rasto no solo. Não se conhece a extensão do trilho. A intensidade estima-se em F2 ou superior.

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