IPMA

2014-08-29 09:45

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Instabilidade atmosférica em Portugal continental: 2 de julho de 2014

De acordo com a análise das 12 UTC do dia 2 de julho do modelo do ECMWF, a situação meteorológica em Portugal continental era determinada a essa hora por um anticiclone localizado sobre a região dos Açores e por uma depressão, pouco cavada, centrada em Espanha a leste de Castelo Branco. A referida depressão estendia-se em altitude aos níveis altos da troposfera, sendo os seus bordos oeste e sul contornados por um jato muito intenso aos 300 hPa (figura 1a). Na segunda metade do dia a depressão viria a deslocar-se para sul afetando o estado do tempo, principalmente, nas regiões do interior.

Através da análise da velocidade vertical (figura 1b), da humidade relativa (figura 1c) e do índice de estabilidade Jefferson (figura 1d) é possível identificar três mecanismos físicos favoráveis à ocorrência de fenómenos convectivos severos (como, por exemplo, aguaceiros fortes e trovoada) nas regiões do interior: movimento vertical ascendente (valores negativos de w), elevado teor de humidade nos níveis baixos (valores superiores a 65%) e instabilidade atmosférica (valores de Jefferson superiores a 30ºC).

 

Cartas do ecmwf
Figura 1 – Análises das 12 UTC do dia 2 de julho de 2014 do modelo do ECMWF: (a) Vento (> 30 kt) e Isotáxicas (> 60 kt) aos 300 hPa; (b) Velocidade vertical (w) aos 850 hPa (Pa s-1); (c) Humidade relativa do ar aos 850 hPa (%); (d) Índice de estabilidade Jefferson (isotérmicas de 2ºC).

Na figura 2 é apresentada uma sequência de imagens do produto Sandwich HRV-IR1 para o período da tarde entre as 12:15 UTC e as 18:15 UTC, no qual foram registadas quantidades de precipitação significativas nas estações meteorológicas da rede do IPMA.

Na imagem do produto Sandwich HRV-IR para as 12:15 UTC (figura 2a) podem observar-se estruturas convectivas, constituídas por uma ou mais células associadas a nuvens cumuliformes, quer em Espanha quer nas regiões do interior Norte e Centro de Portugal, onde os topos das nuvens apresentam tons de azul claro correspondentes a temperaturas de brilho entre 231-235 K (ou de -42 a -38ºC), aproximadamente.

Entre as 12:15 UTC e as 14:15 UTC (figura 2b) é de salientar uma expansão da zona com desenvolvimentos convectivos para sul-sudoeste, associado ao movimento da depressão, facto que é mais notório considerando a sequência de imagens até às 18:15 UTC (figuras 2a-d). Pode também observar-se na imagem para as 14:15 UTC uma célula convectiva na zona da Anadia, cujos topos apresentaram nesta imagem a sua temperatura mais baixa (entre 226-230 K, ou de -47 a -43ºC, aproximadamente), sugerindo que a célula atingiu o seu estado maduro e de maior atividade convectiva. Este facto é consistente com a precipitação intensa ocorrida na estação de Anadia entre as 13 e as 15 UTC (10 mm/1 hora às 14 UTC e  20 mm/1 hora às 15 UTC) que registou os máximos de precipitação no dia 2 de julho nas estações do IPMA.

Embora os registos de precipitação não o permitam confirmar devido à natureza localizada da convecção, a análise das imagens do produto Sandwich HRV-IR sugere, contudo, que os fenómenos convectivos terão sido mais severos nas regiões do interior Norte e Centro, junto à fronteira com Espanha. Como se pode observar na imagem das 16:15 UTC (figura 2c), a estrutura convectiva visível na região de Miranda do Douro exibe uma zona de “pico” amarelo-alaranjada onde são atingidas temperaturas relativamente mais baixas (entre 216-220 K, ou de -57 a -53ºC, aproximadamente).

Das 16:15 UTC às 18:15 UTC (figura 2d) verifica-se um decaimento acentuado da convecção em Portugal continental (topos mais quentes – tons azulados e cinzas – associados a nuvens baixas e/ou pouco espessas). Todavia, na região de Zamora a convecção mantém-se muita severa, como sugere a estrutura convectiva observada nessa região às 18:15 UTC cuja zona de “pico” vermelho-escuro (com temperaturas entre 211-215 K, ou de -62 a -58ºC, aproximadamente) está, muito provavelmente, associada a uma situação em que o topo do cumulonimbo é forçado a ultrapassar a tropopausa devido a uma corrente ascendente muito forte no interior da nuvem (overshooting top).

 

Figura 2 – Imagens do produto Sandwich HRV-IR para o dia 2 de julho: (a) 12:15 UTC; (b) 14:15 UTC; (c ) 16:15 UTC; (d) 18:15 UTC (Escala da temperatura de brilho – BT – em graus Kelvin).

 

1 As imagens do produto Sandwich HRV-IR resultam da combinação de duas camadas: uma camada base na banda do visível do satélite de alta resolução SEVIRI-MSG e uma camada sobrejacente na janela do infravermelho térmico.