Depressão quasi-estacionária de 7 a 13 de maio de 2016

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Figura 1 – RGB massa de ar dia 9 de Maio de 2016, às 12UTC.

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Figura 2 – WV 6.2 dia 11 de Maio de 2016, às 02:15UTC.

Entre os dias 7 e 13 de Maio de 2016, o estado do tempo em Portugal Continental foi condicionado por um vórtice depressionário e baroclínico, quasi-estacionário, centrado a oes-noroeste do território, e no qual foi possível identificar diversas perturbações de menor c.d.o., as quais se propagaram sucessivamente de sudoeste “transportadas” no ramo ascendente (Figuras 1 e 2). Este cut-off resultou de uma perturbação associada a uma depressão centrada sobre a região da Islândia e que deslizou na “crista” de uma onda longa sobre o Atlântico Ocidental (ECMWF).

De uma forma geral, do ponto de vista dinâmico, podia inferir-se forçamento significativo, associado a advecção diferencial positiva de vorticidade entre os níveis dos 300 e dos 500hPa, essencialmente nas regiões Centro e Sul.

No dia 7 de maio, a passagem de uma massa de ar tropical (TetaSw 12/16ºC) e com valores de TPW a variar aproximadamente entre 27.5 e 32.5mm podia associar-se a um sistema frontal activo que atravessou o território do continente de noroeste para sueste, e ao que  estava associada convergência significativa do vector Q na camada 850/500hPa. A partir daí, e no âmbito da mesoescala/escala local observou-se a passagem sucessiva de “linhas de tempo” associadas ao referido vórtice, inseridas numa massa de ar tipicamente polar (TetaSw 10/12ºC), e a injecção continuada de humidade sobretudo nos níveis baixos, embora com valores (máximos) de Td e TPW moderados, respectivamente 12/14ºC e 20/22mm.

As escalas planetárias/sinópticas eram compatíveis com uma atmosfera condicionalmente instável, na qual os gradientes verticais de temperatura numa porção relativamente extensa da atmosfera eram próximos do adiabático saturado ou superiores, e LCLs genericamente abaixo de 700 metros de altitude. Era assim sugerida uma alternância entre valores da CAPE marginais e valores significativos (até 900 J/Kg), assim como LI positivos (inferiores a 1ºC) e LI negativos (embora não inferiores a -2ºC), mais evidentes nas regiões Centro e Sul. À parte ligeiras flutuações, podia identificar-se a tropopausa a uma altitude aproximada de 9000 metros (confirmada pela sondagem de Lisboa das 12UTC) do dia 9 de maio.

Globalmente, este episódio foi caracterizado pela existência de windshear significativo em profundidade e nos primeiros 1000 metros de altitude. Em intervalos de tempo inferiores a 24 horas, era evidenciada advecção quente significativa em particular numa camada relativamente baixa, assim como apenas variação da intensidade do vento.

No entanto, na generalidade, a coincidência espaço-temporal entre os valores mais elevados da CAPE e os valores mais elevados do shear 0-6km e 0-1km, não era absolutamente evidente. Ainda assim, seria eventualmente possível a formação de convecção supercelular (que foi identificada pelos radares de Coruche e Cavalos do Caldeirão com alguma frequência), embora a forma de convecção mais provável fosse a unicelular e multicelular.

Seria assim expectável a ocorrência de precipitações elevadas (10 a 20 mm numa hora, ou até localmente superiores a 20 mm), preferencialmente nas regiões do Centro e Sul de Portugal continental, assim como a ocorrência de trovoadas frequentes, o que de facto se verificou (observações abaixo).


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